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História da Croácia | Croatia Sacra Paulista

História

A história da Croácia é vasta como a da ocupação humana na Europa. Sítios arqueológicos como o de Kaprina atestam a presença dos homens de Neandertal na porção norte do atual território da Croácia. Também há registro arqueológico de 4 culturas pré-históricas em regiões planas perto de rios e do mar.

A ocupação humana no território durante a Idade do Bronze e a Idade do Ferro é bem documentada pelo registro arqueológico, tendo como exemplos a cultura de Vučedol e a ocupação celta (século IV a.C).

No período Grego e no período Romano surgem referências documentais a povos como os Liburnos e os Ilírios, entre outros. O atual território da Croácia compreende territórios das antigas províncias Romanas da Dalmácia e da Panônia. Muitas cidades modernas são ocupadas desde a antiguidade, como Split (Spalatum) e Sisak (Siscia). Durante a Antiguidade Clássica e a Antiguidade Tardia essas localidades produziram grandes nomes da cultura, como o Imperador Deocleciano e São Jerônimo.

A divisão do Império Romano em Império Romano do Ocidente e do Oriente produziu grande impacto político na região. As províncias da Dalmácia e da Panônia ficavam relativamente próximas da fronteira entre os dois Impérios e mais de uma vez mudaram de mãos, oscilando entre a influência de Roma e de Bizâncio. A disputa entre “Ocidente” e “Oriente” se perpetuará por toda a história croata, assumindo novas faces conforme novas potências passem a estender seu poder e sua influência na região.

A invasão dos eslavos (entre os séculos VI a VIII) cria uma nova realidade. Rapidamente os croatas se convertem ao cristianismo e, em 925 d.C., o rei Tomislav é reconhecido pelo papa. A Dinastia Trpimirović controla o próspero Reino da Croácia (Kraljevstvo Hrvata/ Regnum Croatorum) até 1102 d.C., quando, por falta de herdeiros ao trono, ocorre uma disputa dinástica que culmina na união pessoal entre a Croácia e a coroa da Hungria, então sob o reinado de Colomano.

A união foi mediada por um documento controverso, a Pacta Conventa. Se, por um lado, a Croácia não possui mais rei, ficando dependente da Hungria, por outro lado, a Hungria reconhecia o parlamento croata (Sabor) e o poder do Ban (chefe executivo escolhido pelo Sabor), conferindo grande autonomia política para a Croácia. O pano de fundo do debate dos historiadores é a permanência (ou não) de uma identidade política croata. A união com a Hungria determina a história política dos croatas nos séculos posteriores e só será oficialmente rompida em 1918, ao final da 1ª Guerra Mundial.

Em 1526, com a morte de Luís II da Hungria, na Batalha de Mohács, Fernando I, Arquiduque da Áustria, reivindica o trono da Hungria e por extensão, o controle da Croácia. Sob o domínio dos Habsburgos, o Reino da Croácia continua a gozar de certa autonomia política graças ao reconhecimento do Sabor e do poder do Ban.

No entanto, o evento político mais marcante do século XVI é a Invasão Otomana, que domina vastas regiões do território e mantêm a população croata sob jugo severo. O conflito cobra muito do povo croata, já que parte da população se vê obrigada a migrar ou ser convertida ao islamismo. Muitas vidas são perdidas, nas constantes escaramuças que ocorrem nas fronteiras, ao longo os séculos seguintes. Tradições populares como a Sinjska Alka, (torneio equestre anual na cidade de Sinj) rememoram a história das lutas continuas do período.

As grandes batalhas do período também cobram muito em vidas e marcam o inconsciente coletivo nacional, como o Cerco de Siget (1566), comandado por Nikola Šubić Zrinski, no qual cerca de 2500 soldados, defendem a fortaleza de Siget contra o exército do sultão Solimão, o Magnífico, com cerca de 300.000 soldados e 300 canhões.

Em 7 de setembro de 1566, após um mês de exaustivo cerco, o exército otomano inicia o ataque final à fortaleza, quando é surpreendido por Zrinski, que ordena a abertura do portão e comanda pessoalmente o ataque final dos seus 600 soldados contra os invasores otomanos. O saldo final do cerco foi a morte de praticamente todos os defensores, inclusive Zrinski, e a morte de cerca de 30.000 soldados otomanos, além da morte de Solimão, o Magnífico, obrigando o recuo das forças otomanas e negociações de paz. O sacrifício de Zrinski e seus homens é um dos marcos da constante luta do povo croata pela liberdade.

Em paralelo a todos os eventos relacionados aos Húngaros e aos Otomanos, um terceiro poder também exerce sua influência sobre o litoral da Croácia ao longo da história. Trata-se da Republica de Veneza, que controla ilhas e cidades costeiras em diferentes períodos, sempre se aproveitando das vicissitudes políticas para estender sua influência na região. A República de Dubrovnik (Respublica Ragusina) foi uma cidade-estado independente no sul da Dalmácia que prosperou graças a intensa atividade mercante. Em 1808, foi extinta pelas tropas napoleônicas. Por decisão do Congresso de Viena, a antiga república foi anexada ao Reino da Dalmácia, sob controle dos Hapsburg.

Durante o século XIX a Croácia assiste à consolidação do Império Austro-Húngaro (Monarquia Dual, em 1867) e a reconquista da Bósnia-Herzegovina, onde habitava – e ainda habita – uma grande população de etnia croata. Os acontecimentos do período são muito diversos e é fundamental apontar o intenso atrito entre a política centralizadora do império e o florescimento das identidades nacionais. Por um lado, o Império continuava a reconhecer o poder do Ban e do Sabor, enquanto que por outro não permitia o uso da língua croata em documentos oficiais.

Danica, Jornal do Movimento dos Ilírios, editado por Ljudevit Gaj. No 1º volume, fascículo 10 foi publicada a primeira edição do Hino da Croácia, por Antum Mihanović. Fonte Biblioteca Nacional de Zagreb.

Em tal cenário surge, no plano cultural, o Movimento dos Ilírios (Ilirski Pokret, 1835-1863), que busca defender a língua e a expressão cultural do povo croata. O movimento possui diversos desdobramentos culturais e políticos, como a elaboração de diversas gramáticas da língua croata, os estudos de folclore e o estabelecimento de jornais em croata. A repressão das autoridades imperiais foi intensa, visando conter eventuais projetos de emancipação. Até 1918 a luta dos croatas para preservar sua identidade e língua viverá momentos em que repressão e liberdade oscilam conforme os ditames do Império.

Figuras históricas do período como Ban Jelačić, Ante Starčević e Stijepan Radić trabalham para a consolidação de caminhos políticos que visavam a autonomia e independência política do povo croata. Antes que esses caminhos fossem completamente trilhados, a Primeira Guerra Mundial leva a dissolução do Império Austro-Húngaro e a reordenação das forças políticas.

O Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos surge para os croatas, a princípio, como forma de libertação de um Império opressor. Mas a realidade logo mostra sua face mais sombria quando o nacionalismo sérvio enxerga o Reino como uma forma de garantir a hegemonia sérvia no novo estado. Em 1928, Stijepan Radić, fundador do Partido Camponês Croata (Hrvatska Seljačka Stranka) e deputado do reino, sofre um atentado perpetrado por um deputado montenegrino de etnia sérvia, enquanto discursava contra as políticas opressiva do Reino.

A morte de Stijepan Radić (e de outros dois deputados croatas) é um fato trágico na história croata. Em 1929, alegando “caos político”, o rei anula a constituição, assume poderes ditatoriais, criando o Reino da Iugoslávia, reprimindo violentamente os croatas e fechando partidos políticos. No entanto, o prejuízo mais grave reside no fato do assassinato de Radić romper o esforço político unificado em torno da independência, dando origem a dois partidos políticos divergentes.

O Partido Camponês Croata, liderado por Vladko Maček, pretende continuar a luta pela independência política por meios pacíficos, enquanto que Ante Pavelić não acredita mais nas vias pacíficas e opta pela violência armada, criando o movimento Ustaša.

Enquanto as negociações de Vladko Maček progridem, com o governo do Reino da Iugoslávia concedendo mais autonomia para os croatas no território conhecido como Banato da Croácia (Banovina Hrvatska), Ante Pavelić é atraído por Mussolini e Hitler. Quando eclode a Segunda Guerra Mundial e as tropas do Eixo invadem a Iugoslávia, Pavelić cria o Estado Independente da Croácia (Nezavisna Država Hrvatska), marionete da Alemanha Nazista, que durará até 1945. O governo ditatorial é conhecido pelas atrocidades que cometeu contra estrangeiros (judeus, ciganos) e pela perseguição de opositores políticos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o movimento Partisan se opõem à invasão alemã e luta, sob a liderança de Josip Broz Tito, para reconstruir a Iugoslávia. Em 1945 os partisans conseguem seu objetivo e rapidamente a Iugoslávia Socialista mostrará sua face autoritária, concentrando poder, planificando a economia e instalando uma nova ditadura personalista que durará até 1980, quando da morte do ditador.

Apesar de socialista, a Iugoslávia não participa do Pacto de Varsóvia. Tito conduz uma habilidosa política para se manter no poder, ora se aproxima do Ocidente quando se sente pressionado pela União Soviética, ora busca apoio soviético para afastar influências ocidentais. A política interna iugoslava é repressiva no que se refere a identidade nacional croata, como mostram os eventos da Primavera Croata (1972), que culminaram com várias prisões, expulsões de dissidentes e assassinatos, como o de Bruno Bušić, morto pela UDBA, (Serviço Secreto Iugoslavo) em Paris, no ano de 1978.

Com a morte do ditador e os ares da liberdade que sopram no correr dos anos de 1980, a política croata retoma a direção da liberdade autonomia. A União Democrática Croata (HDZ – Hrvatska Demokratska Zajednica) é fundada em 1989 por Franjo Tuđman. Militar, historiador e político, Tuđman, procurando seguir o sonho de Radić, entende a necessidade de criar um estado croata moderno, constitucional e democrático, baseado no equilíbrio entre poderes. O momento histórico – dissolução do Socialismo Real – também é propício.

No entanto, os esforços políticos foram em vão, já que o nacionalismo sérvio, apoiado na superioridade militar do Exército Iugoslavo lança a Croácia em um longa Guerra de Independência que se estenderá de 1991 até 1995. Apesar dos horrores da limpeza étnica e do ataque ao patrimônio histórico perpetrado pelas forças paramilitares sérvias, apoiadas pelo Exército Iugoslavo e transmitidas pelo jornalismo do mundo todo, em episódios como o Cerco de Dubrovnik e o Cerco de Vukovar, a Croácia sobreviveu e pode se constituir como sociedade democrática moderna, discutindo seu passado e construindo seu futuro.